terça-feira, 21 de abril de 2009

Cuidados e manutenção da Flauta Transversal


Ter uma flauta é um processo divisível em três partes:
  1. Compra do instrumento
  2. Manutenção e cuidados quotidianos
  3. Manutenção e reparação

Tendo por base a minha experiência, uma das piores coisas é vermos o nosso instrumento musical a perder o revestimento após uma visita a um atelier de reparação. Certo que há vários factores implicados:
  • a acidez do suor de cada um;
  • os metais usados na liga de revestimento;
  • o tempo e o clima;
  • a limpeza diária da superfície
  • e a qualidade do técnico de reparação.
(Fig. 1) - flauta pousada na posição correcta
Acidez do suor:
Vigie a sua saúde (a acidez do suor), tenha consciência dos seus hábitos. Prazeres excessivos transformam-se em sofrimento, um dia dará conta disso. Deixo duas ligações úteis:
Estas informações nem sempre chegam para resolver o problema, pelo que busque ajuda especializada junto da medicina convencional ou na medicina tradicional.


Os metais usados na liga de revestimento:
Ligas de metais nobres são mais resistentes à corrosão e oxidação, têm uma relação directa com o preço da flauta. O ouro resiste mais do que a prata, e a platina, ainda mais do que o ouro. Outras soluções vão aparecendo como a fibra de carbono e o PVC (plástico duro) esta última, uma solução mais acessível e sonoramente boa nas flautas mais graves ...

Actualmente, as ligas mais comuns melhoraram bastante, abandonou-se quase totalmente o cromado e o niquelado, em prol da prata (por razões alergénicas). É essa a razão de falarmos de flautas em prata maciça ou em liga. Sendo assim, o revestimento e a sua durabilidade avalia-se também quanto à sua densidade e espessura. Como professor de flauta tenho reparado que a espessura provavelmente tem diminuído entre algumas marcas e modelos. Algo típico numa Economia do obsoleto. Pelo que, se aparecerem no revestimento pequenos picos escuros, ao fim de 1,5-2 anos, é porque a espessura da liga era insuficiente.


O tempo e o clima:
A humidade, o frio são os maiores inimigos da sua flauta transversal, devido à condensação de água nas sapatilhas e põe à prova a sua qualidade. Esta humidade também ajuda na corrosão e oxidação, especialmente associada ao "ar salino" marítimo.

O calor também pode ser devastador, nunca deixe o seu instrumento ao sol mesmo que:
  • dentro do estojo e/ou forro;
  • dentro de uma viatura ao sol;
Corre o risco sério de empenar a estrutura e os eixos (de mecânica complexa), e desnivelar as chaves e alavancas (devido a excessiva dilatação dos metais) e ainda, deteriorar as colas dos feltros, cortiças e sapatilhas. O suor é mais abundante sob um tempo quente o que exige mais cuidados com a limpeza exterior, especialmente se tiver um suor ácido; cuidado com as areias que podem riscar o revestimento, no acto de limpeza.


A limpeza diária da superfície:
  • A humidade do suor é mais abundante sob um tempo quente, é o que chamo "água no exterior" da flauta. O maior desgaste do revestimento costuma ser nas chaves de maior atrito digital, os pontos de apoio devem resistir intactos por mais tempo, apesar de estarem em contacto permanente.
  • A humidade e o frio condensam mais água dentro do tubo e chaminés (buracos das chaves) "água no interior" da flauta. Limpar essa água torna-se premente sob temperaturas inferiores a 18ºC, mas até aos 25ºC de temperatura nunca se deve esquecer esta limpeza. Quando pousamos a flauta, atente na sua posição, de modo a que a água escorra longe dos buracos no interior do tubo (fig. 1). O uso de tripés (fig. 2 e 3), onde a flauta encaixa ao alto, é outra opção, mas cuidado, uma queda inadvertida pode danificar bastante o instrumento.
  • ou
  • (Figuras 2 e 3 - tripés)

  • Pano do exterior - um pano de flanela ou outro tecido macio que não lixe o revestimento da flauta, evitar tecidos muito felpudos que fiquem presos nas chaves e cabeças dos parafusos. Nas lojas da especialidade há igualmente panos para o efeito, muitas vezes já vêm com a compra da flauta, costumam estar impregnados de um produto limpador de revestimentos, pelo que não se aconselha o seu contacto com a boca. Evite a aplicação de limpa-pratas ou produtos afins, os cuidados normais devem ser suficientes.
  • Pano do interior - podemos usar gaze dobrada e cozida nas extremidades para não desfiar logo (seca depressa e é barata). Outra solução é comprar algo semelhante numa loja da especialidade, há "tecidos especiais" absorventes e laváveis próprios para o efeito, a abundância de opções existe, é só escolher. Evitar fazer um chumaço grande (gaze em redor da vara) que possa ficar preso num buraco no interior da flauta.
  • As sapatilhas são um dos componentes de alta precisão, recomendo que optem pela maior qualidade disponível, a estabilidade de um bom nivelamento depende bastante disso (para além da qualidade da flauta). O pó e areias finas tendem a acumular-se na depressão da sapatilha (na chaminé) e nos relevos das chaves, juntamente com resíduos da pele e suor. Uma boa sapatilha está intacta, se o revestimento plástico evitar que o feltro interno contacte com a humidade, de outro modo, as fugas aparecem e o som enfraquece rapidamente. Não é bom sinal, a sapatilha ter um círculo de pressão desigual. Está na hora de uma reparação.
(Fig. 4) - Limpador de sapatilhas
  • Na limpeza das sapatilhas pode usar mortalhas de papel ou então, como na figura 4, um limpador próprio, à venda nas lojas da especialidade, é uma superfície secadora e lavável. Usando mortalhas de papel (que serve para enrolar tabaco), atente ao facto de um dos lados ter cola. Dobre a mortalha de modo a colocar a cola no interior da mortalha. Como vêm há muitos acessórios, alguns que provavelmente desconheço, nunca fui muito adepto, há uns 15-20 anos atrás não havia tanta variedade de artigos. Acho que quase todos os acessórios podem ter um fim pedagógico. Se compensa ou não é uma questão do leitor!!! O meu conselho é - use acessórios, de modo a depender ao mínimo deles.
  • Atenção: Nunca puxar a superfície de limpeza com a chave pressionada, isso lixa a sapatilha ....
  • Evite o uso de ceras ou gorduras para besuntar as junção das partes da flauta. O seu uso é indicado em alguns flautins/piccolos, sempre em junções com ajuste de cortiça. Se o ajuste entre as partes da sua flauta estão justos ou lassos em excesso, vá ao seu técnico de reparação. Evite forçar a entrada das partes, pode empenar facilmente (um risco frequente nos alunos de 1º grau); se estiver lasso, perderá som, uma fuga de pressão acústica.
  • Nunca mexa na válvula (êmbolo) no topo da cabeça da flauta, busque o conselho de quem saiba. Se algum dia, esta válvula (de afinação da fundamental) estiver lassa, vá ao seu técnico de reparação, não é nada grave... mas não tente afinar com alguém nessa situação !!!
  • Registe o nº de série e todas as particularidades do seu instrumento, pode ser útil em caso de furto ou roubo. Os instrumentos de música continuam a ser artigos de luxo (taxa máxima de IVA).
  • Por vezes, os parafusos no topo dos eixos vão desaparafusando, reveja este detalhe e corrija-o. Lembre-se, fale ao seu técnico destas e de outras ocorrências menores quando levar a flauta para reparação.


A qualidade do técnico de reparação:
Como em tudo, as teorias nada são, até resultarem na prática. Inteligência e mãos sábias resultam numa mistura de engenhosidade, capaz de poupar algumas centenas de euros no bolso do cliente. É uma questão de ética pessoal e profissional, nem tudo pode ser negócio, neste mundo consumista. Por isso, aconselho-vos cuidado com a escolha do "médico" para a vossa flauta. As más experiências obrigam-me a não recomendar técnicos de reparação cujas práticas eu desconheça. Refiro mais ao alto, na coluna lateral direita, o Atelier dos Sopros Dourados em Lisboa, porque é a quem confio a minha flauta em reparação, como cliente encontro lá a confiança e o esclarecimento de eu que preciso. Este deve ser o critério da vossa escolha.

A minha flauta há muito que perdeu o brilho de outrora, o brilho embaciou numa visita a um técnico de reparação sem escrúpulos, é o que acontece quando se tenta limpar o que está limpo, o revestimento foi gasto em demasia... e não há outro remédio depois... eu notei logo alterações no polimento à vista desarmada... mas pronto, já foi tarde demais!!! Não havia necessidade... sim, fiquei mesmo bastante aborrecido. E sim, a oxidação da prata aumentou muito nesses pontos, exactamente.

Nem sempre o local de venda do instrumento é o local de reparação, bem pelo contrário. Seja observador e não se prenda à incompetência, pode sair-lhe caro. Mais do que currículos e molduras, são as escolhas que definem a qualidade do técnico. Por exemplo, a questão da qualidade das sapatilhas, bem como noutros critérios e opções que definem a relação custo-qualidade do trabalho final.

Esclareça as dúvidas e as questões com o seu técnico de confiança, recorde-se que lhe passam largas centenas de instrumentos pelas mãos e esse conhecimento é precioso, quer falemos de identificar as modas, as alterações que as flautas sofrem, as diferenças e fiabilidade de construção e operação de vários modelos e marcas, por aí a fora...

9 comentários:

  1. Olá eu toco flauta transversal e gostaria de fazer uma pergunta : Como sei se minha flauta é em sol, dó ou mi ?

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  2. Se usar um afinador ou um afinador online (usando microfone) poderá verificar se a nota dedilhada corresponde à frequência detectada pelo afinador. Como às vezes os afinadores trazem um código inglês das notas musicias verifique que a Correspondência entre Letras e nome das notas é a seguinte:

    Dó = C; Ré = D; Mi = E; Fá = F; Sol= G; Lá = A; Sib = B; Si (bequadro) = H

    Aqui tem a tabela de posições na flauta transversal:
    http://cantinhodaflauta.blogspot.pt/2009/04/tabela-de-posicoes.html

    Se a nota detectada é diferente isso quer dizerque está a tocar um instrumento transpositor, ou seja, cuja fundamental não é dó. A questão da transposição é mais complicada pois pede conhecimentos de acústica que não dá para explicar aqui. Talvez dê assunto para um artigo. Espero que tenha respondido à sua questão.

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  3. olá minha flauta é a eagle e ela esta com um dos cavalete bambo, e uma chave bamba tambem. E isso a deixou completamente fora de si ou seja desafinada :-(
    o que faço? melhor levar ao tecnico ne?

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  4. Olá! Em primeiro lugar, parabéns pelo blog, cujo conteúdo é interessantíssimo e muito bem escrito, além de muito útil!
    Gostaria de fazer uma pergunta. Tenho em mãos uma flauta antiga e totalmente condenada, bastante oxidada, repleta de vazamentos, sapatilhas já desfiando... pretendo me aventurar a repará-la. Gostaria de saber que tipo de produto seria o adequado para remover a oxidação.

    Muito obrigado!

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    1. É difícil responder à sua questão sem ver o estado da flauta - Será que vale a pena limpar? Há muitos produtos, basta procurar um comum limpa-pratas (se for o caso) ou um limpa-metais genérico. Se a oxidação tiver num grau muito avançado nenhum dos produtos vai satisfazer e o metal estrutural da flauta irá continuar a degradar. Mandar pratear ou revestir novamente com um banho de qualidade irá custar mais do que comprar uma flauta nova.

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  5. Ola, meu pano ficou preso dentro da flauta e nao sai por nada, oque eu faço?

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    1. Olá!Já conseguiu resolver?Quando isso acontece alguma linha do pano enganchou no mecanismo do corpo da Flauta. Puxar pode trazer um dano pior, então é melhor levar a flauta ao luthier, ele deve ter alguma ferramenta específica para retirar o tecido, sem riscos maiores ao instrumento.
      Espero ter ajudado! =)

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  6. Olá! Parabéns pelo artigo, muito útil e informativo! Gostaria de uma informação específica sobre flautas transversais niqueladas.Tenho uma há três anos e meio e ela já está bem oxidada.Porém,no porta lábio, à direita do orifício do bocal, surgiram feias manchas pretas,acho q descuidei da limpeza ali.Há um produto indicado q possa remover estas manchas, devolvendo a cor prateada normal do porta lábio, sem danificar o metal e a qualidade do som?
    Aguardo sua resposta o mais breve possível! Obrigada!

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