segunda-feira, 11 de maio de 2009

A afinação e a obsessão do Lá



A afinação e a flauta transversal é um tópico interessante, uma vez que na minha experiência enquanto professor já acompanhei vários alunos desde o momento em que deram as primeiras notas, até ao ponto de eles ganharem consciência das origens de um correcto controlo da afinação. A veracidade das suas experiências é a melhor prova e os seus relatos confirmam uma realidade concreta e repetível, sempre que tocavam em bandas filarmónicas ou orquestras. Talvez o oboé não seja o instrumento mais afinado da orquestra, aquele que tradicionalmente é escolhido para dar a nota de afinação, nota que aliás deveria ser dada sempre em relação a outra (como o ré). A prática mostra que ao seu lado, um flautista consciente do seu instrumento, poderá no mínimo acompanhar a precisão do oboé. Este é o assunto a tratar adiante.

Debruço-me sobre a afinação da flauta transversal, aquela a que todos assistimos nos segundos anteriores ao início de uma audição ou recital. A afinação, enquanto desequilíbrio estrutural e/ou específico de algumas marcas de flauta, ultrapassa a intenção deste artigo, este assunto pode ser encontrado em variada bibliografia, pelo que me irei cingir às observações que provavelmente nunca verão por escrito. Na peugada da afinação, entre o relativo e o absoluto.

São os detalhes que distinguem o bom, do muito bom, ou o muito bom, do excelente. Obviamente, avaliar pode ser bastante subjectivo, ou por outro lado, reducionista, depende sempre da capacidade, à partida, do avaliador percepcionar detalhes e do valor que dá ao que é capaz de percepcionar (o que existe nesse seu mundo).

A afinação depende de 5 factores:
  1. Da velocidade da coluna de ar;
  2. Do ângulo de ataque da coluna de ar;
  3. Da relação torcional entre braços e boca;
  4. Da ressonância, via postura e respiração;
  5. Da acuidade psicomotora do tocador.
A qualidade da sonoridade está intimamente ligada à precisão da afinação, são totalmente interdependentes. A potência sonora e o esforço de suporte também se encontram conectados sistemicamente. A flauta nunca terá a potência de um trombone, uma vez atingida a sua potência óptima, incrementando a ressonância ao máximo, todo o acréscimo de potência sonora será feito às custas da qualidade ou do equilíbrio de outro factor.

A concentração sonora tem relação directa com o vibrato. Ele é uma manifestação do estado de homeostasia sonora, o momento em que deveremos considerar que o som ganha vida própria, tal e qual como no Homem se distingue o estado vibrante da Saúde (homeostase), do estado baço e doentio. A capacidade expressiva depende da capacidade de atingir este equilíbrio eutónico capaz de alimentar ou anular o vibrato, ambas as acções custam esforço ao flautista, uma vez que as duas são fugas a um estado de equilíbrio com maior inércia intrínseca. Por último, o vibrato é ele mesmo uma flutuação da afinação (uma órbita) e torna óbvia a natureza intrincada dos 5 factores descritos. A aprendizagem e a experimentação do que afirmo é complexa de escrever, de modo a abordar todas as dúvidas que se podem levantar, só em aulas é possível exemplificar e demonstrar, ou se já tem bastante prática de flauta, naturalmente tenderá a encontrar o sentido destas palavras.



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