terça-feira, 21 de abril de 2009

Estudar uma Arte, porquê?

Rafael: Escola de Atenas (1483 - 1520)

Eis uma questão profunda e vital para a humanidade. Gostaria de a explicar da forma mais simples e completa possível, evitando ser maçudo. É primordial que fique claro, você deve ter consciência da razão que anima as suas acções. 

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A defesa da Poesia ou a defesa da Arte de Shelley coloca, em retrospectiva, questões bem reais. Tendo em conta Shelley, o que poderá ser a Arte além desta noção e quais as consequências disso? O que é então e para que serve a Arte? Será que Nietzsche "ao matar Deus", matou a Arte? Em que medida a actual crise de valores e referências tem relação com este marco histórico? Talvez a fragmentação do conhecimento, da ciência e das certezas (verdades e absolutos) sejam os cacos desta história, tanto a noção de Weber do Especialista Sem Inteligência, como a definição de "intelectual" usada por Arthur C. Clarke "alguém que recebe educação para lá da sua inteligência".


Proponho que ouçamos o filósofo Paulo Ghiraldelli:
O que é a Arte?

Se por um lado, a Arte focou como objecto o Belo (a forma, o gosto), esgotando-se eventualmente, depois veio a tornar-se reflexão (o significado, apreciação), uma filosofia em si mesma, o que eventualmente, terá os seus limites. Porque será que é importante estudar uma arte? Repito, estudar uma arte (experimentá-la), não pretendo dizer estudar Arte (teoria), o que é bem diferente. De um lado temos o artista, do outro, o cientista e nenhum deles será sábio sem integrar ambas as facetas na produção do conhecimento. O significado destes termos está hoje desvirtuado, com a tendência ao isolamento entre cada um destes mundos. A consequência deste processo é o caos e a perda de sentido, em vez da busca pela Verdade, assistimos à expansão de ilusões e fabulações. 

A revolução cultural dos anos 60 culminou com a destruição da elite cultural francesa. Cada vez temos menos sábios e mais especialistas. Em troca, deram-nos o multiculturalismo, o ambientalismo (novamente), o feminismo, a desresponsabilização e o facilitismo. O verdadeiro conhecimento científico que possa abalar o paradigma vigente é suprimido e substituído pela propaganda (científica) dos controladores, iludindo a sociedade civil e reprimindo quem se "arme" em sábio. É bom que fique claro, os cientistas não são os "donos da verdade", não mais do que qualquer um de nós, eles têm apenas a liberdade conferida por quem lhes paga o salário. Sim, é uma questão de soberania.

A arte tem um impacto mental profundíssimo, a sua linguagem não verbal pode fortalecer ou amolecer as entranhas da humanidade. Mais do que saber tudo sobre as inúmeras obras-primas ou descobertas científicas, o mais importante é entender o processo de ideias que as gerou, pois ele comporta em si, a totalidade da experiência humana, para lá das barreiras do Espaço e do Tempo. O Homem é criador de um mundo que lhe é próprio, cada vez mais denso, formada por ideias e um conhecimento cumulativo, tecnológico e cultural, a herança de cada geração humana.


Eternas perguntas, eternas convicções.
    - Quem somos?
    - Onde estamos?
    - Para onde vamos?

Há 2 grandes opções, qual é a sua escolha?
    - Somos animais ou mais do que isso?
    - Qual a diferença entre um animal e o Homem?
    - O que nos torna mais do que meros animais?


Os animais têm sentimentos e também diferenciam a dor e o prazer, apenas o Homem tem o sentido da imortalidade, o que tem implicações tremendas e desafia a polaridade reactiva entre prazer e dor. Bem ao modo de um Adam Smith, quem exerce o poder tem sempre tentado criar a ilusão de que o indivíduo está isolado na sua fraqueza e ignorância, pressupondo que o Homem nunca terá a capacidade de conhecer a verdadeira natureza da realidade, pelo que se deve contentar em aproveitar o momento, ser popular, seguir a "opinião pública", opinião acéfala e manipulada facilmente por quem detém o Poder. Este enquadramento induz ao egoísmo dos valores, afastando o Homem de si mesmo e da grandeza do seu imutável desígnio humano.

Ao lidar com a imortalidade, o Homem tem de pensar no Futuro (preservando a Vida e as condições que a animam) investindo o Presente na criação de um Futuro, ao contrário do que as tiranias fazem, usando o Presente para corrigir o Passado, de modo a se justificarem a si mesmas. A supressão é gerada pelo medo do tirano em perder o controlo. O controlo são as ilusões criadas para suprimir os outros indivíduos. Sim, a arte pode ser e tem sido usada como arma política e de controlo mental.

O uso do Presente virado sobre o Passado induz a um conceito sectário de imortalidade, falso, egoísta e naturalmente pervertido, onde não se olham a meios para atingir os fins, optando por escolhas que ceifam vidas, sem emoções, gratuitamente. Todo o poder deve servir a Vida e não a Morte, a quebra de princípios morais conduz à tensão no sistema social, um obstáculo que contraria o fluxo expansivo da humanidade, é então que surgem as crises.

A natureza do Homem é seguir o universo, o movimento, a criatividade espontânea e voluntária, sonhando e concebendo o futuro. Por isso, todos os impérios acabam por apodrecer por dentro, no fundo veneram a Morte e tudo o que está doente ou morto decompõe-se naturalmente. A arte é a representação do movimento, da Vida e do modo como nós o experimentamos. Sem esquecer a contemplação!!!

A imortalidade comporta a noção de sacrifício (virtude) e destrói a lógica calculista da perspectiva egoísta e hedonista, sem nunca extinguir a Culpa. A Moral é um conjunto de premissas essenciais na criação de um futuro para as 4-6 gerações seguintes. Responde à Vida, nunca à Morte.

A repressão ou supressão é iniciada pelo controlo da unidade de valor como forma de retirar energia (trabalho) ao outro, o que gera conflito, pois o indivíduo sente que o seu contributo para a imortalidade da sua espécie está em risco, o que é uma violência, unanimemente condenável e inaceitável.

A Arte é uma herança, fonte de inspiração imaterial e representação do que é imortal ou absoluto na precária existência. Resume e transporta mensagens morais. Recriá-la, conduz o aprendiz à experimentação da essência da vida humana, ao confronto entre a informação sensorial e os princípios maiores do que o indivíduo, educando sobre o que é essencial e acessório à existência humana, alargando a capacidade da consciência. Sem isto quebra-se a força moral da nova geração e a capacidade de escolha e defesa do Amanhã. A Arte não é sinónimo de inteligência, contudo, é um meio de defender a inteligência na espécie humana, na força da sua ironia retumbante. 

A Arte é eterna, a Ciência não! 
Usar explicações científicas para destruir a essência imortal da Arte ou usar a degeneração da Arte como justificação de escolhas científico-políticas, é atentar contra a Humanidade.
História é feita de ideias, não de opiniões.
(leituras a não perder nas imagens)



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2 comentários:

  1. Caro Augusto, Bom dia.
    Eu, por acaso, navegado na internet, encontrei o seu site e ví nele
    esta frase¨ Qualquer especialização suficientemente avançada é
    indistinguível da idiotice" ë concordei imediatamente.
    Parabens.
    Jesus Rodriguez

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  2. ¨A natureza do Homem é seguir o universo, o movimento, a criatividade espontânea e voluntária, sonhando e concebendo o futuro. Por isso, todos os impérios acabam por apodrecer por dentro, no fundo veneram a Morte e tudo o que está doente ou morto decompõe-se naturalmente. A arte é a representação do movimento, da Vida e do modo como nós o experimentamos. Sem esquecer a contemplação!!!"

    Caro Rui, sei que conheces as palvras acima. O que não sabias é que nós dois concordamos inteiramente, mais uma vez, com elas...

    Um Feliz Natal e um mui próspero 2011 pra si e toda sua família!
    Abraço
    Jesus Rodriguez.
    Ps Como sugestão: Que tal um vídeo com o amigo tocando?

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